Letra do Hino Oficial de Pilar – PB faz Alusão ao Atraso

       

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        Mikahil Bakthin denominou a carnavalização, como o processo pelo qual uma coisa nos é apresentada de forma inversa, contrária, pelo averso. Tal processo pode ser observado de modo claro no Auto da Barca do Inferno, obra pertencente ao período da Idade Média e de autoria de Gil Vicente.

         Por meio deste processo tinha-se o nivelamento social,onde também se torna possível fazer críticas a sociedade da época, totalmente dominada pelo medo do poder de Deus sobre a vida terrena e no além túmulo tão difundido pela Igreja Católica, e sobretudo, para promover o riso.

        No hino oficial da cidade de Pilar – PB, temos não um processo carnavalesco, mas uma inversão de fatos históricos. Considero que tal artifício fora usado pelo autor com intuito de aproveitar algo que representa um fato importante para a história do município, certamente é, porém não da forma tomada como sendo verdadeira. Atentemos para a analise da estrofe.

“(...)”Aqui um olhar profundo

te enamorou, Pedro II.(...)”¹

        Temos uma afirmação realizada pelo eu lírico acerca de um fato histórico real. O verbo enamorar, usado no pretérito perfeito do modo indicativo, significa inspirar amor, apaixonar-se. Tal afirmação feita pelo "eu" do poema, não condiz com a realidade, pois ao ler documentos que relatam a visita de Dom Pedro a Vila Real do Pilar, não se observa dados que retratem tal sentimento explícito no poema.

      Quando aqui chegou o Imperador, ninguém estava a esperá-lo. Dom Pedro retrata apenas os defeitos aqui encontrados deixando qualidades para a próxima visita, algo que não aconteceu. Ou seja, o hino de Pilar-PB trás de modo implícito um defeito tão em evidência nos dias atuais. Desde o tempo do Império, se tem um sistema de governo falho, demagogo, onde o ato de cumprir suas obrigações denota incapacidade evidente.

       D. Pedro II não ficou enamorado, pois não havia motivos para isso. Falou mal da água que bebeu, do calor provocado pela queima da cana que estava plantada em lugar inadequado e também da má recepção. Mas deixemos o fato compor o poema. Deixemos nos iludir com isso. Finjamos que nada aconteceu, nada mesmo, assim como agora acontece. Nada, nada, nada....!!!

¹Costta Antonio. Cantemos a nossa Terra, in Um Juntador de Palavras. João Pessoa: Sal da Terra, 2003.p.33.