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Foto: Google Imagens |
Já
deixei claro que o sistema educacional do município é pobre,
deficiente, engessado e opressor. Então fica extremamente difícil
despertar nos habitantes a perspectiva sólida de poder ocupar um
posto na sociedade. Não estamos formando nossas crianças, todas
estão sendo desprezadas e permanecem agonizando na marginalidade dos
padrões sócio históricos locais. Centenas de crianças não
enxergam a escola como um lugar instigador, prazeroso, mas como
pretexto de se obter a refeição do dia. Péssima refeição por
sinal. Pilar ousa viver do pretérito. Enquanto isso, inúmeras
crianças que deveriam estar recebendo educação de qualidade, estão
padecendo como espíritos imundos que consomem a carne morta,
totalmente pútrida.
No princípio de número treze está
explicito que:
A
cidade educadora deverá dar uma formação efetiva às pessoas sobre
a informação. Deverá estabelecer instrumentos úteis e linguagem
adequada para que seus recursos estejam ao alcance de todos num plano
de igualdade. Assim, será comprovado que a informação concerne
verdadeiramente aos habitantes de todos os níveis e idade.
(princípio 13).
É este um dos mais altos picos da
montanha da hipocrisia. Pois, informação e transparência são
substantivos que não nomeia nenhum seres aqui presentes. Quando se
tem um projeto em vista, primeiro os líderes políticos beneficiam
seus familiares e amigos e em seguida, coloca a conhecimento da
população as vagas remanescentes. A secretaria de Educação e
Cultura, por exemplo, nunca cumpriu seu papel de maneira coerente e
ainda permanecem no mundo do “Faz de Contas” que existe.
Adiantemos
para o próximo princípio:
A
cidade deverá garantir a qualidade de vida a partir de um meio
ambiente saudável, e de uma paisagem urbana em equilíbrio com seu
meio natural. (princípio 17).
Pilar
deixa a desejar em diversos aspectos. O meio ambiente é um deles.
Como pode uma cidade educadora permitir que seus rios sejam dragados
sem trégua e recebam dejetos indústriais e de vasos sanitários de
uso coletivo? Que a poeira oriunda dos movimentos dos carros caçambas
deixem o ar acinzentado? São muitas as contradições!
Por
mencionar o termo contradição, que presume, ideia contrária,
vejamos o próximo princípio:
Todos
os habitantes da cidade têm o direito a reflexionar e a participar
na construção de programas educativos e a dispor de instrumentos
necessários para poder descobrir um projeto educativo na estrutura e
no regime de sua cidade, nos valores que esta fomente, na qualidade
de vida que o ofereça, nas festas que o organize, nas campanhas que
prepare, no interesse que manifesta com respeito a eles e na forma em
que os escute.( princípio 19).
Quando
se trata do público, automaticamente o mesmo torna-se privado. A
classe popular é excluída de todas as ações democráticas e
educativas. Os eventos festivos do município são pobres e
consequentemente empobrecedores da verdadeira cultura. Prega-se
alusão ao “nada”. O pior é que a massa se contenta com uma
banda musical qualquer exaltando a pós-orgia. Neste sentido todos
tornam-se reflexo de si mesmo de maneira real, porém ainda assim,
não veem, não percebem nada diante de seus olhos, pois são ébrios,
totalmente ébrios.
Outro
ponto contraditório está no vigésimo princípio. Passemos a
observar:
Uma
cidade educadora, não segregará as gerações. Os princípios
anteriores são o ponto de partida para poder desenvolver o potencial
educador da cidade de todos os seus habitantes. Esta carta, por tanto
deverá ser ampliada com os aspectos não tratados nesta ocasião.
(princípio 20).¹
Bom, segregar é o mesmo que
isolar. Portanto, não se observa na história deste torrão,tão
amado por seus conterrâneos e tão difundido pela literatura,
através de Zé Lins do Rego, outro desprezado por seu município de
origem, práticas que censurem a segregação; Seja ela racial,
cultural ou religiosa. O que sempre se observou é um sistema falho,
demagogo, oportunista, que sempre visualizou a cor da pele como sendo
indicador de boa ou má índole, que sempre considerou a religião
como sendo apenas dois polos. Por falar em questões religiosas,
percebe-se que nas escolas se tem um ensino religioso medíocre,
totalmente inadequado. Pois apenas ensinam a decorar os termos identificáveis de capítulos e versículos bíblicos. Somos um país
negro, ao mesmo tempo que estamos subordinado a um tipo de governo
que ignora seus traços de identidade cultural. Fazem nascer deuses
seletistas, que prima o alvo e condena o escuro e seus derivados.
Pelo que foi exposto, fica evidente
que a cidade de Pilar-PB não possuía e também não possui no
presente momento, o minimo de capacidade necessária para ser
considerada um cidade educadora. Destarte, o que ocorreu no ano de
1999 não é motivo de orgulho e sim de tristeza profunda. Como
afirmei outrora, Pilar vive de momentos pretéritos, improdutivos. E
por incrível que pareça, se orgulha de seus fracassos. Maquiaram as
reais condições da cidade para que pudesse obter o status de 1ª
cidade do Brasil a ser aceita como membro da Associação
Internacional das Cidades Educadoras com sede em Barcelona –
Espanha. Para que tal feito fosse consumado, criaram um projeto de
lei que se assemelha e muito ao que fora criado para alterar o nome
da Praça João Pessoa, e também descaracterizar a principal praça
da cidade, que agora serve de mesas e bancos de bares a céu aberto.
A cidade que se preocupa com o meio ambiente substituiu a vegetação
por areias pálidas areias e que retratam de forma sublime a face da
velha Vila do Pilar.
Em meio à tantas contradições,
dirijo minhas preces a Dice/Diké( filha de Zeus com Têmis) pois é
esta a deusa da justiça e dos julgamentos, vingadora da violação
das leis. Também solicito por meio de incessantes preces a Hipnos
que se compadeça dos míseros miseráveis, e os despertem do sono
mortal provocados pelo aliados de Mephisto.
Aproveito a oportunidade para tornar
público o fato de que, em consulta ao site oficial da Associação
Internacional das Cidades Educadoras, foi observado que apenas 15
cidades do Brasil ainda se mantém como membro da Associação e
Pilar-PB não está entre elas. As cidades são: Belo Horizonte,
Campo Novos do Parecis, Caxias do Sul, Dourados, Itapetininga,
Jequié, Porto Alegre, Santiago, Santo André Santos, São Bernardo
do Campo, São Carlos, São Paulo, Sorocaba e Vitória.
Pilar ficou pelo caminho. Creio que
o ser responsável por este ato miraculoso quis escrever seu nome na
história eterna e ao mesmo tempo efêmera do município. Torço para
que tenha conseguido. Até porque, não deixará de ser motivo de
orgulho não é mesmo?!
¹Extraído da Carta e Estatutos da Associação Internacional das Cidades Educadoras - Declaração de Barcelona (1990), p. 7-9. In.SILVA,Lucimário Augusto da. Pilar, da Aldeia Cariri aos Nossos Dias. João Pessoa, 2007. p. 157-161.